terça-feira, 1 de setembro de 2009

A geopolítica e a geoeconomia das nações no início do século XXI


As transformações geoeconômicas e as reconfigurações geopolíticas deste início de século XXI explicitam a natureza do poder capitalista em geral, mas não evidenciam a derrocada do poder norte-americano em particular. Essa é uma das teses centrais do livro "O mito do colapso americano" (Record), de José Luís Fiori, Carlos Medeiros e Franklin Serrano, que consagra uma década e meia de reflexões críticas sobre as transformações nas relações entre poder e dinheiro, Estados e moedas, no capitalismo contemporâneo. A resenha é de William Vella Nozaki.
O mito de um colapso
O livro, lançado recentemente, "O mito do colapso do poder americano", consagra uma década e meia de reflexões críticas sobre as transformações nas relações entre poder e dinheiro, Estados e moedas, no capitalismo contemporâneo...


As transformações geoeconômicas e as reconfigurações geopolíticas deste início de século XXI explicitam a natureza do poder capitalista em geral, mas não evidenciam a derrocada do poder norte-americano em particular. Essa é uma das teses centrais do livro "O mito do colapso americano" (Record), de José Luís Fiori, Carlos Medeiros e Franklin Serrano, que consagra uma década e meia de reflexões críticas sobre as transformações nas relações entre poder e dinheiro, Estados e moedas, no capitalismo contemporâneo. A resenha é de William Vella Nozaki.
William Vella Nozaki (*)

Resenha de:

FIORI, José Luís; MEDEIROS, Carlos & SERRANO, Franklin. O mito do colapso do poder americano. Record: Rio de Janeiro, 2008.

O mito de um colapso
O livro, lançado recentemente, "O mito do colapso do poder americano", consagra uma década e meia de reflexões críticas sobre as transformações nas relações entre poder e dinheiro, Estados e moedas, no capitalismo contemporâneo.

A tese partilhada pelos três autores, e explicitada já no título da obra, é inequívoca e serve como um alerta para os analistas apressados que, em tempos de crise financeira internacional, encontram ora a derrocada de um império e o fim do capitalismo, ora a desestruturação de uma hegemonia e a ascensão de uma ordem internacional mais equilibrada e pacífica.

Na contramão desses dois formatos de análise, o livro tomado em conjunto parece dizer: o analista que deseja argumentar em favor do colapso do poder americano deveria comprovar a diminuição da presença dos EUA, ou o enfraquecimento na representação de seus interesses nacionais, nos principais conflitos mundiais (José Luís Fiori). Mais ainda, deveria comprovar a desestruturação interna da economia, e, sobretudo da moeda, dos EUA (Franklin Serrano). E, além disso, deveria comprovar a fragilização externa do Estado americano, sobretudo diante do surgimento econômico do China e do ressurgimento militar da Rússia (Carlos Aguiar de Medeiros). Como não estamos assistindo a nenhum desses processos, o colapso do poder americano só pode ser um mito.

O poder americano
Em diálogo com as teorias do imperialismo e com as teorias dos ciclos hegemônicos, José Luís Fiori apresenta o diagnóstico acerca do poder global e da economia mundial que alinhava a obra: o autor nos lembra que ao menos desde a década de 1970 as tentativas de se prever o fim do poder americano, encontrando nele o colapso do próprio capitalismo, tornaram-se freqüentes. Entretanto, mais do que nunca, atualmente, tornou-se evidente como cada sinal apontado como indício do declínio americano converteu-se em manifestação de seu fortalecimento.

Assim é que, afirma Franklin Serrano, na década de 1970 a desestruturação do sistema monetário-financeiro internacional de Bretton Woods ao invés de questionar a importância do dólar coroou sua centralidade dando-lhe mais flexibilidade; do mesmo modo, na década de 1980, os EUA tornaram-se os principais devedores e importadores mundiais, mas antes do que provocar um desequilíbrio macroeconômico tais características serviram de motor à economia mundial; já durante a década de 1990, a difusão das políticas neoliberais serviu como instrumento para uma virada estratégica internacional norte-americana a fim de consolidar sua capacidade de revolução tecnológico-militar; por fim, na década atual, a derrota política no Iraque não foi capaz de diminuir o poder militar e bélico dos EUA, e, apesar da crise financeira global, não há indicativos de que a importância do dólar ou dos títulos da dívida americana seja reduzida.

Do mesmo modo, anota Carlos Aguiar de Medeiros, a recente ascensão de países como Rússia e China, ainda que partindo de determinantes nacionais, teve forte influência dos EUA.

Na Rússia, a recentralização do Estado à partir da mistura entre quadros políticos e militares consolidou uma nova realidade macroeconômica, marcada pela recuperação do complexo industrial-militar, pela ampliação dos investimentos e do consumo, pela consolidação das empresas estatais de petróleo e gás e pelo crescimento econômico, colocando a Rússia em lugar de destaque no sistema mundial. Mas essa nova realidade foi, quase sempre, condicionada pelas políticas dos EUA, desde o colapso da antiga URSS, passando pelos anos Ieltsin e culminando na ampliação do poder americano na Ásia Central e no Leste Europeu, o ressurgimento russo permanece ocorrendo à sombra dos interesses americanos.

Na China, a ascensão da economia a partir da combinação entre iniciativas de mercado e estratégias estatais introduziu novas políticas de investimento em setores de alta tecnologia e de infra-estrutura, o que vem gerando grandes mudanças em sua estrutura produtiva e nas condições sociais do país. A persistência do crescimento econômico acelerado faz da China um país decisivo na definição dos preços globais de matérias-primas e energia, colocando-a na posição de grande player internacional. Mas é bastante conhecida a simbiose entre a produção industrial chinesa e a circulação monetária do dólar, de maneira que a China deve ser percebida não como substituta dos EUA, mas como seu mais perfeito complemento no sistema mundial contemporâneo.

Com isso, anotam os autores, não se trata de deixar de perceber as mudanças e dificuldades porque passa a economia mundial e norte-americana, mas de ressalvar o que parece ser mais importante: o fato de que com certeza não se trata do fim do poder americano. O que parece acontecer, ao contrário, é uma alteração na direção de uma nova ordem mundial, com características mais imperiais do que hegemônicas.

Causas estruturais

Mas a interpretação desse processo passa por uma reconceituação da própria noção de poder, nesse sentido, o esforço teórico de José Luís Fiori merece atenção, pois traz novos elementos para a composição de uma teoria estrutural das dinâmicas conjunturais. Aqui, as clássicas relações entre Estado, capital e industrialização são substituídas por conexões entre guerra, moeda e mercantilização.

Para Fiori, a história do sistema interestatal capitalista pode ser compreendida em quatro etapas: o embrião do primeiro sistema europeu de guerras e trocas (1150-1350), o nascimento do sistema interestatal europeu (1450-1650), a formação do sistema interestatal capitalista, propriamente dito (1790-1914), além de um quarto momento, atual, em curso desde a década de 1970.

A eclosão de cada uma dessas etapas teria como causa a pressão competitiva entre os Estados, e como conseqüência o alargamento das fronteiras internas e externas, assim é que naquele primeiro momento as invasões mongóis e o expansionismo das Cruzadas resultaram na composição de unidades territoriais soberanas e competitivas; já no segundo momento, os conflitos intra-europeus entre Portugal e Espanha, e mais tarde entre Holanda, Inglaterra e França, desaguaram na colonização dos territórios americanos; enquanto no terceiro momento, a emergência de três grandes potências, EUA, Alemanha e Japão, resultou na incorporação dos continentes africano e asiático.

Por trás dessa lógica de sucessivas pressões e explosões situa-se o que o autor denomina de “associação indissolúvel e expansiva entre a necessidade da conquista e a necessidade do excedente”. Tal associação materializa-se num esquema hobbesiano em que as guerras estimulam a criação de impostos para financiá-las, as moedas surgem como forma de delimitar o horizonte territorial de captação de tributos, e, por fim, a circulação de uma unidade de valor padronizada acaba engendrando a troca e o comércio. Portanto, a anterioridade do poder sobre a riqueza é um dos princípios teóricos para se interpretar o capitalismo. Desse modo o império ou a vontade imperial, assim como a guerra e a preparação para a guerra, são os pré-requisitos para a existência dos Estados-nacionais, e a hierarquia entre eles é determinada pela capacidade de lastrear e firmar o valor de sua moeda privada e de seus títulos públicos.

Nesse arcabouço é logicamente impossível que algum Estado possa ou consiga estabilizar o sistema mundial, instável por natureza; além disso, a própria potência hegemônica, que deveria ser o elemento estabilizador, mais do que todos os outros precisa da guerra e da competição para seguir acumulando poder e riqueza, mais ainda: para se expandir, muitas vezes, ele precisa ir além e destruir as regras e instituições que ele próprio construiu.

A principal tese de Fiori, é que no nosso sistema interestatal capitalista ordem e desordem, expansão e crise, paz e guerra são elementos inerentes, por isso guerras e crises não indicam, necessariamente, finais ou colapsos dos Estados e economias envolvidas. Desse modo, as guerras e crises em curso desde a década de 1970 fazem parte de uma mudança estrutural de longo-prazo que aponta para um aumento da pressão competitiva mundial, para o início de uma nova corrida imperialista que se prolongará pelas próximas décadas e que terá a participação decisiva do poder americano.

Consequências conjunturais

A partir desses pressupostos é que se pode iniciar uma releitura da nova geopolítica internacional, destacando a dinâmica dos subsistemas estatais e das hegemonias regionais a fim de ressaltar como a presença norte-americana é atuante, e pode ser decisiva, em cada um dos tabuleiros da conjuntura internacional.

Para Fiori, a projeção internacional do poder americano é um fenômeno que começa pouco depois da independência desse país e se prolonga de forma contínua pelos séculos XIX e XX, entretanto, apenas no pós-guerra os EUA revelam sua estratégia hegemônica, convertida em estratégia imperial depois das crises da década de 1970. Além disso, os atentados de 11 de setembro de 2001 parecem desnudar o fato de que as disputas, típicas da Guerra Fria, entre as grandes potências não teve fim, nem após a queda do muro de Berlim tampouco após a desintegração da URSS. Vale lembrar, em 1989, o governo de George Bush (pai) é quem formula e anuncia pela primeira vez a doutrina estratégica norte-americana para o século XXI de “contenção preventiva universal”, contra qualquer tipo de concorrente que pudesse reproduzir a ameaça soviética ao poder americano; em 2001, o governo de George Bush (filho) converte aquele projeto em uma postura bélica explícita, assim sendo, as intervenções no Iraque, Afeganistão e a Guerra contra o Terror parecem sinalizar não a crise do poder norte-americano, mas a existência de contradições em uma tentativa expansiva. E, lembra o autor, apesar de seus revezes militares e de suas dificuldades econômicas os EUA seguem como o único player global, presente em todas as disputas decisivas ao redor do mundo.

A partir do exposto acima, vale a pena resgatar as principais consequências conjunturais decorrentes da análise estrutural apresentada pelos autores do livro.

Para José Luís Fiori, na geopolítica das nações deste início de século XXI, o Oriente Médio ocupa posição central dada a efervescente combinação entre disputas territoriais, conflitos religiosos e abundância de recursos energéticos. Desse modo, o fortalecimento do Irã e o radicalismo de Israel tendem a desencadear a hostilidade regional, com ressonância sobre países como EUA, China e Rússia cujo interesse no petróleo e no gás da região é crescente e estratégico. Mais ainda, uma aproximação entre o Oriente Médio e a Ásia Central envolveria todos os poderes que, de alguma maneira, estão envolvidos na disputa pela hegemonia eurasiana.

A Europa, por sua vez, repousa sob um dilema, a utopia pacifista e internacionalista da União Européia e a realidade pragmática e nacionalista de seus três principais sócios: França, Grã-Bretanha e Alemanha. Enquanto os franceses seguem desmontando as conquistas políticas e históricas do velho continente, os britânicos caminham rendendo graças ao americanismo do novo continente, ambos temem o fortalecimento dos alemães que já se apresentam no comando da política macroeconômica da região e são fortes candidatos a comandar, também, a política externa do continente, por intermédio de uma aproximação com a Rússia.

Aliás, um desafio e uma incógnita é desvendar o papel ocupado pela Rússia nesse novo cenário. A fragmentação imposta ao território russo após o fim da União Soviética, o apoio sistemático dado pelos EUA e pela União Européia à autonomia dos países da antiga zona de influência soviética, assim como a tentativa norte-americana de expandir sua fronteira bélica pelo Leste Europeu, não podem ser encarados como um avanço sobre uma área derrotada, aliada ou neutra. A reconstrução do Estado e da economia russas através do investimento no seu complexo industrial-militar e por meio da nacionalização de seus recursos energéticos não pode passar despercebida, arremata Carlos Aguiar de Medeiros.

No que se refere a Ásia, além de a região ter se transformado em um dos pólos fundamentais da acumulação capitalista e do desenvolvimento da economia mundial, uma disputa pela hegemonia regional envolve potências como Japão, China e Coréia. Enquanto a China patrocina uma aproximação estratégica com a Rússia, o Japão conta com o apoio permanente dos EUA. A situação torna-se mais complexa quando levamos em consideração a Índia, dado que o crescimento intenso desse país e da China os colocam frente a frente na competição, cada vez mais intensa, por recursos energéticos e alimentos.

A África, por seu turno, que seguiu à margem da globalização comercial e financeira nas últimas décadas, agora se apresenta como principal fronteira para a acumulação primitiva e para a expansão política e econômica do capitalismo asiático. Atualmente existem, principalmente, na África Negra uma centena de companhias chinesas e de projetos de investimento indianos, para não mencionarmos diversos outros países que buscam consolidar suas segurança energética a partir do território africano. Tudo indica que a África está se transformando em uma região privilegiada para uma nova corrida imperialista.

Por fim, na América do Sul, a emergência de forças políticas nacionalistas, desenvolvimentistas e até mesmo socialistas foi possibilitada pelo ciclo de crescimento da economia mundial, e, sobretudo, pelo peso decisivo da demanda e da pressão asiática. Em particular a China tem sido grande importadora de minérios, energia e grãos, estimulando o aumento no preço das commodities, fortalecendo a formação de reservas em moeda forte e a capacidade fiscal dos Estados, o que tem diminuído a fragilidade externa e melhorado a capacidade de negociação internacional desses países.

O Brasil, em particular, goza de posição favorável dada sua intensa capacidade de produção e exportação de petróleo e alimentos, além de controlar a maior parte do território da Amazônia. Vale notar que certa inserção externa ingênua e amistosa da América do Sul e do Brasil estão chegando ao fim, no médio prazo, é provável uma competição cada vez mais intensa entre o Brasil e os EUA pela supremacia na região.

O sistema mundial no século XXI

O quadro sintetizado acima evidencia a importância crescente do eixo oriental e a presença constante da força norte-americana. Com destaque especial para a associação econômica entre EUA e China (Franklin Serrano), para a aproximação entre Rússia e China (Carlos Aguiar de Medeiros) e para a possível aliança política entre Alemanha e Rússia (José Luís Fiori). É importante sublinhar, o soerguimento da China e a ressurreição da Rússia são pontos centrais para quem quer que pretenda analisar a conjuntura internacional atual, mais ainda, os simples rótulos de países emergentes ou de potências que combinam economia de mercado e planejamento estatal são insuficientes para flagrar o verdadeiro significado desse processo.

Além disso, pela primeira vez na história do sistema mundial, as relações entre países não desenvolvidos adquirem uma densidade e um dinamismo expressivo, mas antes de adotar fórmulas fáceis, como aquela que agrupa os países do chamado BRIC. Fiori destaca certas “convergências assintóticas” entre quatro grandes Estados-nacionais que se destacam no redesenho das relações internacionais, mas com papéis diferentes, assim o autor analisa as pretensões de hegemonia regional na China e na Índia e a falta de um projeto nacional claro no Brasil e na África do Sul.

Ou seja: as transformações geoeconômicas e as reconfigurações geopolíticas deste início de século XXI explicitam a natureza do poder capitalista em geral, mas não evidenciam a derrocada do poder norte-americano em particular.

Por fim, vale ressaltar, se nesse novo cenário como afirma José Luís Fiori, a América Latina começa a entrar em sua fase adulta, então o pensamento crítico produzido por esses três autores não pode ser outra coisa senão a primeira expressão dessa maturidade.

(*) Bacharel em Ciências Sociais (FFLCH/USP); mestrando em Desenvolvimento Econômico, área de concentração: História Econômica (IE/UNICAMP). E-mail: willnozaki@gmail.com
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16109&boletim_id=580&componente_id=9842

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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Marina Silva: uma ação do PT para enfrentar Heloisa Helena e o PSOL


Fabio Lemes
Economista, Mestre em Desenvolvimento pela Unijuí.

A Senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente (MMA) no Governo Lula, que inclusive foi à primeira ministra anunciada publicamente no primeiro mandado do presidente (juntamente com Antonio Palocci no Ministério da Fazenda), saiu do governo porque este impôs uma visão de crescimento econômico, consolidada no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que considerou muito pouco as demandas ambientais apresentadas pelo MMA.
O ingresso de Marina Silva no Partido Verde, PV com sua possível candidatura a Presidência da Republica em 2010, pode representar uma tentativa de pautar a temática ambiental com mais relevância no processo eleitoral. Isto pode ser entendido como positivo, mas o partido escolhido pela senadora, apesar de seu nome (PV), esta longe de ser um partido no sentido programático do termo. Sua configuração nacional assemelha-se mais a uma legenda de aluguel...

Fabio Lemes

A Senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente (MMA) no Governo Lula, que inclusive foi à primeira ministra anunciada publicamente no primeiro mandado do presidente (juntamente com Antonio Palocci no Ministério da Fazenda), saiu do governo porque este impôs uma visão de crescimento econômico, consolidada no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que considerou muito pouco as demandas ambientais apresentadas pelo MMA.
O ingresso de Marina Silva no Partido Verde, PV com sua possível candidatura a Presidência da Republica em 2010, pode representar uma tentativa de pautar a temática ambiental com mais relevância no processo eleitoral. Isto pode ser entendido como positivo, mas o partido escolhido pela senadora, apesar de seu nome (PV), esta longe de ser um partido no sentido programático do termo. Sua configuração nacional assemelha-se mais a uma legenda de aluguel, que reúne nomes tão dispares no cenário político e com propostas políticas pouco consistentes que nem mesmo o movimento ambientalista acompanha este partido como alternativa.
Mas a candidatura de Marina Silva a presidência contribuiu para amenizar um sério problema do PT. O partido, especialmente a nível nacional, não encanta mais um importante setor da sociedade brasileira. Nas ultimas eleições, a candidata Heloisa Helena, do PSOL, recebeu mais de 7 milhões de votos, sendo que cada vez setores mais amplos da sociedade começam a buscar uma alternativa de esquerda ao lulismo.
A candidatura de Dilma (PT), apesar de capitalizar a maior parte das conquistas do governo, só se elegerá se conseguir reunir no segundo turno tanto os setores fisiológicos que o governo Lula vem arregimentando (basta ver o apoio a Sarney no Senado), com os setores da centro-esquerda e os campos mais progressistas do país, para enfrentar José Serra, do PSDB.
Neste sentido, uma campanha mais a esquerda de Dilma (PT), representada por Marina Silva (PV), com a garantia de apoio desta ao PT no segundo turno interessa tanto ao Palácio do Planalto, que é possível imaginar-se que esta “ruptura” de Marina com o partido a qual ajudou a construir só aconteceu porque seu movimento é uma ação a serviço dos próprios interesses do Governo Lula.
E os governistas se deram ao trabalho de criar esta estratégia porque sabem o perigo que representa uma candidatura alternativa como a de Heloisa Helena/PSOL, com um programa socialista, baseado em propostas de Desenvolvimento Sustentável, que se propõe a modificar as estruturas políticas e sociais deste país. Portanto, a possível candidatura de Marina Silva (PV) servirá mais aos setores neoliberais (PSDB) ou sociais-liberais (PT), para os quais as questões ambientais são apenas variáveis a serem equalizadas, e não uma mudança de mentalidade que deve se priorizada.




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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

15 anos de Plano Real, que herança comemorar?


Fabio Lemes

Recentemente comemorou-se, com grande pompa no Senado Federal, os 15 anos de implementação do Plano Real, amplamente festejada pela mídia nacional. Tanto os aliados de Lula, como a oposição neoliberal fizeram discursos em homenagem ao plano que “estabilizou a economia brasileira”. Este discurso senso comum entende a economia apenas como as variáveis financeiras, sem considerar as demais conseqüências da moeda para uma economia nacional.
Este Plano Real foi afiançado no...

Fabio Lemes

Recentemente comemorou-se, com grande pompa no Senado Federal, os 15 anos de implementação do Plano Real, amplamente festejada pela mídia nacional. Tanto os aliados de Lula, como a oposição neoliberal fizeram discursos em homenagem ao plano que “estabilizou a economia brasileira”. Este discurso senso comum entende a economia apenas como as variáveis financeiras, sem considerar as demais conseqüências da moeda para uma economia nacional.
Este Plano Real foi afiançado no financiamento externo para formar uma reserva em dólares que viabilizassem o lucro dos investimentos, especialmente os especulativos. A valorização do Real frente ao dólar abriu as portas para a enxurrada de produtos importados, além de prejudicar as exportações, a consagração deste modelo foi o regime de câmbio fixo.
Sem conseguir divisas externas por meio da balança comercial, o país tornava-se cada vez mais dependente do capital especulativo. E o governo aumentava os juros para atrair esses capitais, via títulos da dívida, além de avançar no programa de privatizações, desfazendo-se das estatais para atrair especuladores e equilibrar as contas externas, tendo como conseqüência a queda dos investimentos produtivos, que no campo energético, por exemplo, quase levaram o país a um apagão.
Na prática, o câmbio fixo foi uma semi-dolarização da economia. Na Argentina, onde essa política foi mais radical, chegando a ser colocado na Constituição a paridade cambial de um peso para um dólar, resultou na bancarrota total da economia do país visinho no final de 2001.
No Brasil, uma das principais conseqüências foi à explosão da dívida pública, que em 1994 representava 32,5% do PIB, chegando em 1998 a 37,8% e pulando em 2002 para 57% do valor que o país produzia em um ano. Isto ocorreu em um processo de privatizações e rolagens de dividas, com elevados pagamentos de juros regiamente. A saída do governo era recorrer, constantemente a empréstimos internacionais, sobretudo junto ao FMI.
Estes empréstimos vinham com a contrapartida da exigência de um rigoroso ajuste fiscal e metas de superávit primário, ou seja, economia nos gastos sociais e investimentos, para pagamento de juros.
A abertura comercial via redução das tarifas de importação e o câmbio
valorizado provocaram uma enxurrada de produtos importados, afetando a indústria nacional e causando desemprego.
Em 1994, a taxa de desemprego nas regiões metropolitanas era de 5,4%, chegando a 8,2% em 1998. Em 2004 estava em 13%. Este era um dos principais resultados da reestruturação produtiva e da flexibilização dos direitos sociais e trabalhistas.
O aumento da dívida pública via Plano Real foi diferente do endividamento anterior, pois desta vez ela não financiava a substituição de importações ou o
aumento das exportações. Ao contrário, tornava o país mais vulnerável às oscilações da economia internacional.
Esta política durou até a crise do câmbio, em janeiro de 1999, quando uma fuga massiva de capital especulativo encerrou o regime de câmbio fixo, que era o principal
instrumento de sustentação do Plano Real. Para muitos economistas, este plano terminou nesta crise, restando apenas à moeda Real.
A partir de 1999 adotou-se o câmbio flutuante, o valor da moeda passou a depender da quantidade de dólares no mercado. A partir daí estabeleceu um tripé
que vigora até hoje: as metas de inflação, de superávit primário e a Lei de Responsabilidade Fiscal (ou Lei de Irresponsabilidade Pública).
A inflação deixou de ser a principal preocupação dos trabalhadores, sendo substituída pelo desemprego, a flexibilização das relações trabalhistas e baixos salários. A população em geral ganhou a precarização dos serviços públicos, como saúde e educação. Os servidores públicos ficaram com salários arrochados e sofreram enormes perdas nesse período. O governo atual promove mantém um pesado superávit primário para pagar os juros da divida, que foi internalizada via mecanismos de venda de títulos da divida pública no mercado nacional.
E mesmo com a enorme propaganda sobre o fim da inflação, utilizada pelo governo e os empresários para não concederem reajustes, a população de baixa renda sabe que a inflação continua nas prateleiras, corroendo os salários em médio prazo.
Essa é a verdadeira herança do Plano Real, comemorada por oposicionistas como Fernando Henrique Cardoso e Agripino Maia e governistas como José Sarney e Fernando Collor de Melo.

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quarta-feira, 20 de maio de 2009

O debate sobre o PIB: "estamos fazendo a conta errada"


Quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas. Na metodologia atual, a poluição parece como sendo ótima para a economia, e o IBAMA vai aparecer como o vilão que a impede de avançar.
A análise é de Ladislau Dowbor...

O debate sobre o PIB: "estamos fazendo a conta errada"


Quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas. Na metodologia atual, a poluição parece como sendo ótima para a economia, e o IBAMA vai aparecer como o vilão que a impede de avançar.
A análise é de Ladislau Dowbor.

Ladislau Dowbor (*)

"Crescer por crescer, é a filosofia da célula cancerosa" - Banner
colocado por estudantes, na entrada de uma conferência sobre economia.

PIB, como todos devem saber, é o produto interno bruto. Para o comum dos mortais que não fazem contas macroeconômicas, trata-se da diferença entre aparecerem novas oportunidades de emprego (PIB em alta) ou ameaças de desemprego (PIB em baixa). Para o governo, é a diferença entre ganhar uma eleição e perdê-la. Para os jornalistas, é uma ótima oportunidade para darem a impressão de entenderem do que se trata. Para os que se preocupam com a destruição do meio-ambiente, é uma causa de desespero. Para o economista que assina o presente artigo, é uma oportunidade para desancar o que é uma contabilidade clamorosamente deformada.

Peguemos o exemplo de uma alternativa contábil, chamada FIB. Trata-se simplesmente um jogo de siglas, Felicidade Interna Bruta. Tem gente que prefere felicidade interna líquida, questão de gosto. O essencial é que inúmeras pessoas no mundo, e técnicos de primeira linha nacional e internacional, estão cansados de ver o comportamento econômico ser calculado sem levar em conta – ou muito parcialmente – os interesses da população e a sustentabilidade ambiental. Como pode-se dizer que a economia vai bem, ainda que o povo va mal? Então a economia serve para quê?

No Brasil a discussão entrou com força recentemente, em particular a partir do cálculo do IDH (Indicadores de Desenvolvimento Humano), que inclui, além do PIB, a avaliação da expectativa de vida (saúde) e do nível da educação. Mais recentemente, foram lançados dois livros básicos, Reconsiderar a riqueza, de Patrick Viveret, e Os novos indicadores de riqueza de Jean-Gadrey e Jany-Catrice. Há inúmeras outras iniciativas em curso, que envolvem desde o Indicadores de Qualidade do Desenvolvimento do IPEA, até os sistemas integrados de indicadores de qualidade de vida nas cidades na linha do Nossa São Paulo. O movimento FIB é mais uma contribuição para a mudança em curso. O essencial para nós, é o fato que estamos refazendo as nossas contas.

As limitações do PIB aparecem facilmente através de exemplos. Um paradoxo levantado por Viveret, por exemplo, é que quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas. O PIB mede o fluxo dos meios, não o atingimento dos fins. Na metodologia atual, a poluição
aparece como sendo ótima para a economia, e o IBAMA vai aparecer como o vilão que a impede de avançar. As pessoas que jogam pneus e fogões velhos no rio Tieté, obrigando o Estado a contratar empresas para o desassoreamento da calha, contribuem para a produtividade do país. Isto é conta?

Mais importante ainda, é o fato do PIB não levar em conta a redução dos estoques de bens naturais do planeta. Quando um país explora o seu petróleo, isto é apresentado como eficiência econômica, pois aumenta o PIB. A expressão “produtores de petróleo” é interessante, pois nunca ninguém conseguiu produzir petróleo: é um estoque de bens naturais, e a sua extração, se der lugar a atividades importantes para a humanidade, é positiva, mas sempre devemos levar em conta que estamos reduzindo o estoque de bens naturais que entregaremos aos nossos
filhos. A partir de 2003, por exemplo, não na conta do PIB mas na conta da poupança nacional, o Banco Mundial já não coloca a extração de petróleo como aumento da riqueza de um país, e sim como a sua descapitalização. Isto é elementar, e se uma empresa ou um governo apresentasse a sua contabilidade no fim de ano sem levar em conta a variação de estoques, veria as suas contas rejeitadas. Não levar em conta o consumo de bens não renováveis que estamos dilapidando deforma radicalmente a organização das nossas prioridades. Em termos técnicos,
é uma contabilidade grosseiramente errada.

A diferença entre os meios e os fins na contabilidade aprece claramente nas opções de saúde. A Pastoral da Criança, por exemplo, desenvolve um amplo programa de saúde preventiva, atingindo milhões de crianças até 6 anos de idade através de uma rede de cerca de 450 mil voluntárias. São responsáveis, nas regiões onde trabalham, por 50% da redução da mortalidade infantil, e 80% da redução das hospitalizações. Com isto, menos crianças ficam doentes, o que significa que se consome menos medicamentos, que se usa menos serviços hospitalares, e que as famílias vivem mais felizes. Mas o resultado do ponto de vista das contas econômicas é completamente diferente: ao cair o consumo de medicamentos, o uso de ambulâncias, de hospitais e de horas de médicos, reduz-se também o PIB. Mas o objetivo é aumentar o PIB ou melhorar a saúde (e obem-estar) das famílias?

Todos sabemos que a saúde preventiva é muito mais produtiva, em termos de custo-benefício, do que a saúde curativa-hospitalar. Mas se nos colocarmos do ponto de vista de uma empresa com fins lucrativos, que vive de vender medicamentos ou de cobrar diárias nos hospitais, é natural que prevaleça a visão do aumento do PIB, e do aumento do lucro. É a diferença entre os serviços de saúde e a indústria da doença. Na visão privatista, a falta de doentes significa falta de clientes. Nenhuma empresa dos gigantes chamados internacionalmente de
“big pharma” investe seriamente em vacinas, e muito menos em vacinas de doenças de pobres. Ver este ângulo do problema é importante, pois nos faz perceber que a discussão não é inocente, e os que clamam pelo progresso identificado com o aumento do PIB querem, na realidade, maior dispêndio de meios, e não melhores resultados. Pois o PIB não mede resultados, mede o fluxo dos meios.

É igualmente importante levar em consideração que o trabalho das 450 mil voluntárias da Pastoral da Criança não é contabilizado como contribuição para o PIB. Para o senso comum, isto parece uma atividade que não é propriamente econômica, como se fosse um bandaid social. Os gestores da Pastoral, no entanto, já aprenderam a corrigir a contabilidade oficial. Contabilizam a redução do gasto com medicamentos, que se traduz em dinheiro economizado na família, e que é liberado para outros gastos. Nesta contabilidade corrigida, o não-gasto aparece como aumento da renda familiar. As noites bem dormidas quando as crianças estão bem representam qualidade de vida, coisa muitíssimo positiva, e que é afinal o objetivo de todos os nossos esforços. O fato da mãe ou do pai não perderem dias de trabalho pela doença dos filhos também ajuda a economia. O Canadá, centrado na saúde pública e preventiva, gasta 3 mil dólares por pessoa em saúde, e está em primeiro lugar no mundo neste plano. Os Estados Unidos, com saúde curativa e dominantemente privada, gastam 6,5 mil, e estão longe
atrás em termos de resultados. Mas ostentam orgulhosamente os 16% do PIB gastos em saúde, para mostrar quanto esforço fazem. Estamos medindo meios, esquecendo os resultados. Neste plano, quanto mais ineficientes os meios, maior o PIB.

Uma outra forma de aumentar o PIB é reduzir o acesso a bens gratuitos. Na Riviera de São Lourenço, perto de Santos, as pessoas não têm mais livre acesso à praia, a não ser através de uma séria de enfrentamentos constrangedores. O condomínio contribui muito para o PIB, pois as pessoas têm de gastar bastante para ter acesso ao que antes acessavam gratuitamente. Quando as praias são gratuitas, não aumentam o PIB. Hoje os painéis publicitários nos “oferecem” as maravilhosas praias e ondas da região, como se as tivessem produzido. A busca de se
restringir a mobilidade, o espaço livre de passeio, o lazer gratuito oferecido pela natureza, gera o que hoje chamamos de “economia do pedágio”, de empresas que aumentam o PIB ao restringir o acesso aos bens. Temos uma vida mais pobre, e um PIB maior.

Este ponto é particularmente grave no caso do acesso ao conhecimento. Trata-se de uma área onde há excelentes estudos recentes, como A Era do Acesso, de Jeremy Rifkin; The Future of Ideas, de Lawrence Lessig; O imaterial, de André Gorz, ou ainda Wikinomics, de Don Tapscott. Um grupo de pesquisadores da USP Leste, com Pablo Ortellado e outros professores, estudou o acesso dos estudantes aos livros acadêmicos: o volume de livros exigidos é proibitivo para o bolso dos estudantes (80% de famílias de até 5 salários mínimos), 30% dos títulos recomendados estão esgotados. Na era do conhecimento, as nossas universidades de linha de frente trabalham com xerox de capítulos isolados do conjunto da obra, autênticos ovnis científicos, quando o MIT, principal centro de pesquisas dos Estados Unidos, disponibiliza os cursos na íntegra gratuitamente online, no quadro do OpenCourseWare (OCW) (1). Hoje, os copyrights incidem sobre as obras até 90 anos após a morte do autor. E se fala naturalmente em “direitos do autor”, quanto se trata na realidade de direitos das editoras, dos
intermediários.

É impressionante investirmos por um lado imensos recursos públicos e privados na educação, e por outro lado empresas tentarem restringir o acesso aos textos. O objetivo, é assegurar lucro das editoras, aumentando o PIB, ou termos melhores resultados na formação, facilitando, e incentivando (em vez de cobrar) o aprendizado? Trata-se, aqui também, da economia do pedágio, de impedir a gratuidade que as novas tecnologias permitem (acesso online), a pretexto de proteger a remuneração dos produtores de conhecimento.

Outra deformação deste tipo de conta é a não contabilização do tempo das pessoas. No nosso ensaio Democracia Econômica, inserimos um capítulo “Economia do Tempo”. Está disponível online, e gratuitamente. O essencial, é que o tempo é por excelência o nosso recurso não renovável. Quando uma empresa nos obriga a esperarmos na fila, faz um cálculo: a fila é custo do cliente, não se pode abusar demais. Mas o funcionário é custo da empresa, e portanto vale a pena abusar um pouco. Isto se chama externalização de custos. Imaginemos que o valor
do tempo livre da população econômicamente ativa seja fixado em 5 reais. Ainda que a produção de automóveis represente um aumento do PIB, as horas perdidas no trânsito pelo encalacramento do trânsito poderiam ser contabilizadas, para os 5 milhões de pessoas que se deslocam diariamente para o trabalho em São Paulo, em 25 milhões de reais, isto calculando modestos 60 minutos por dia. A partir desta conta, passamos a olhar de outra forma a viabilidade econômica da construção de metrô e de outras infraestruturas de transporte coletivo. E são perdas que permitem equilibrar as opções pelo transporte individual: produzir carros realmente aumenta o PIB, mas é uma opção que só é válida enquanto apenas minorias têm acesso ao automóvel. Hoje São Paulo anda em primeira e segunda, gastando com o carro, com a gasolina, com o seguro, com as doenças respiratórias, com o tempo perdido. Os quatro primeiros itens aumentam o PIB. O último, o tempo perdido, não é contabilizado. Aumenta o PIB, reduz-se a mobilidade. Mas o carro afinal era para quê?

Alternativas? Sem dúvida, e estão surgindo rapidamente. Não haverá o simples abandono do PIB, e sim a compreensão de que mede apenas um aspecto, muito limitado, que é o fluxo de uso de meios produtivos. Mede, de certa forma, a velocidade da máquina. Não mede para onde vamos, só nos diz que estamos indo depressa, ou devagar. Não responde aos problemas essenciais que queremos acompanhar: estamos produzindo o quê, com que custos, com que prejuizos (ou vantagens) ambientais, e para quem? Aumentarmos a velocidade sem saber para onde vamos não faz sentido. Contas incompletas são contas erradas.

Como trabalhar as alternativas? Há os livros mencionados acima, o meu preferido é o de Jean Gadrey, foi editado pelo Senac. E pode ser utilizado um estudo meu sobre o tema, intitulado Informação para a Cidadania e o Desenvolvimento Sustentável. Porque não haverá cidadania sem uma informação adequada. O PIB, tão indecentemente exibido na mídia, e nas doutas previsões dos consultores, merece ser colocado no seu papel de ator coadjuvante. O objetivo é vivermos melhor. A economia é apenas um meio. É o nosso avanço para uma vida melhor que deve ser medido.

* Ladislau Dowbor é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de “Democracia Econômica”, “A Reprodução Social: propostas para uma gestão descentralizada”, “O Mosaico Partido: a economia além das equações”, “Tecnologias do Conhecimento: os Desafios da Educação”, todos pela editora Vozes, além de “O que Acontece com o Trabalho?” (Ed. Senac) e co-organizador da coletânea “Economia Social no Brasil“ (ed. Senac) Seus numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social, inclusive o artigo Informação para a Cidadania mencionado acima, estão disponíveis no site http://dowbor.org/ – Contato: ladislau@dowbor.org

(1) O material do MIT pode ser acessado no site http://www.ocw.mit.edu/; Em vez de tentar impadir a aplicação de novas tecnologias, como aliás é o caso das empresas de celular que lutam contra o wi-fi urbano e a comunicação quase gratuita via skype, as empresas devem pensar em se reconverter, e prestar serviços úteis ao mercado. A IBM ganhava dinheiro vendendo computadores, e quando este mercado se democratizou com o barateamento dos computadores pessoais migrou para a venda de softwares. Estes hoje devem se tornar gratuitos (a própria IBM optou pelo Linux), e a empresa passou a se viabilizar prestando serviços de apoio informático. Travar o acesso aumenta o PIB, mas empobrece a sociedade.

Fonte
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15977

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Com as chuvas, os problemas acabaram?


Diogo Mattana[1]

Nos últimos meses a nossa região vinha sofrendo com uma forte estiagem, que causou inúmeros danos tanto na agricultura quanto nos outros setores. Porém, felizmente, as chuvas chegaram e os problemas estariam resolvidos, todavia ainda resta muita coisa a recuperar.
A estiagem obrigou as prefeituras da região a efetuarem gastos extraordinários para ajudar seus munícipes, por um longo período muitas famílias, especialmente da área rural, dispunham apenas da água trazida por caminhões da prefeitura para seu consumo e para o gado. Muitas prefeituras chegaram inclusive a paralisar suas atividades internas, o transporte escolar e as aulas para evitarem maiores despesas financeiras, alem de poupar água.
Mais critica ainda é a situação dos agricultores, que viram suas lavouras e pastagens secar, de tal forma que perdemos praticamente toda a safrinha de milho e os prejuízos com o gado também são enormes e irrecuperáveis, especialmente no que é relativo à produção leiteira, pois além de ficar sem o milho safrinha, que em grande parte seria utilizado para alimentação dos animais, tanto na forma de grãos quanto silagem, o gado em geral perdeu bastante peso durante a estiagem, com isso diminuindo significativamente a produção, sem contar que a maioria dos agricultores foram obrigados a alimentar o gado com a silagem estocada para o inverno. Sabemos que o gado não engorda do dia para a noite, portanto a produção não aumentará somente pela chegada da chuva, da mesma forma que a produção durante o inverno também esta comprometida, visto que o alimento destinado para tal período já foi gasto.
Como vemos, a chuva é extremamente necessária, mas a estiagem deixou um rastro de desolação na região, portanto os problemas não acabaram com a chegada das chuvas. Agora mais do que nunca é necessário um posicionamento dos governos Estadual e Federal, no sentido de renegociar dividas dos produtores rurais e das prefeituras, visando à reestruturação produtiva e administrativa da região, caso contrário os impactos relativos à estiagem perdurarão e se multiplicarão, podendo acarretar na incapacidade de investimento das prefeituras e na impossibilidade de nossos agricultores produzirem, especialmente aqueles pertencentes à agricultura familiar, fato que pode acentuar o êxodo rural na região.


[1] Acadêmico do curso de Economia da Unijuí, Estagiário da ITECSOL- Incubadora de Economia Solidária, Desenvolvimento e Tecnologia Social da Unijuí e integrante do Grupo PET-Economia.




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terça-feira, 14 de abril de 2009

Políticas expansionistas: a receita milagrosa do planejamento central para debelar a atual crise


Bruno Colletto[1]
Estamos em meio a uma turbulência sem precedentes na economia mundial nos últimos setenta anos. Basta observarmos os números gigantescos que esta crise produziu e ainda está produzindo. E sendo desta forma, tornou-se inevitável que as tão propagadas causas que vinham sendo idealizadas pelos planejamentos centrais e suas influências mundo afora viessem por terra, provocando a debandada de alguns daqueles que outrora se engajavam em apoiá-las.
E então a verdade torna-se explícita e insustentável, e não mais pode-se sustentar que a responsabilidade desta crise seja do sistema financeiro, que na verdade não passa de uma conseqüência das atitudes irresponsáveis do planejamentos centrais, especialmente os EUA, que no intuito de estimular a atividade econômica em momentos de desaceleração praticou políticas fiscais e especialmente monetárias expansionistas inundando o mercado de moeda provocando uma diminuição artificial da taxa de juros e uma conseqüente viabilização de atividades econômicas que não seriam possíveis com a taxa de juros real da economia.
Ao se fazer isso a economia recebe um gás, e retoma suas atividades, porém de forma insustentável, criando os chamados ciclos econômicos. E desta forma a humanidade fica a mercê de períodos de grande euforia, provocados pelo artificial crescimento da economia, e períodos como os que estamos passando agora, que nada mais são do que a evidência dos erros do passado, levados à tona pela força do mercado.
Porém, para a maioria isso parece ser totalmente desconhecido, vide as atitudes dos planejamentos centrais: diminuição de juros, redução de tributos, injeção de enormes pacotes de dinheiro dos contribuintes na economia para salvar aquelas atividades econômicas que, graças às atitudes errôneas do mesmo no passado se tornaram viáveis, ou seja, praticando as milagrosas políticas expansionistas, as quais colocaram-nos nesta situação. Parece uma metáfora, porém, estamos sendo tratados de uma doença com a causa dela.
Sendo assim, o que podemos esperar para o futuro? Infelizmente as expectativas não são boas, pois, o nosso provável destino é mais um ciclo econômico. De que proporções? De que consequências? Isso somente o mercado, daqui um tempo suficiente poderá nos dizer. Então, resta-nos esperar um pouco de sensatez dos planejadores oficiais permitindo que o mercado elimine, neste momento, a maior quantidade possível de imperfeições, mesmo sabendo que isso provocaria um sofrimento momentâneo ainda maior e seria a sua desgraça política. Um sofrimento aceitável diante dos benefícios proporcionados pelo crescimento sustentável no longo prazo.

[1] Integrante do grupo PET Economia - Unijuí.


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segunda-feira, 16 de março de 2009

EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA: “ME DECIFRA OU TE DEVORO”


Leocir Bressan[1]
Ao se tomar ciência e educação em seu desenvolvimento histórico como objeto de estudo, percebe-se como é íntima esta conexão. Pode-se compreender esta estreita relação partindo da análise da evolução estrutural da ciência e educação modernas e seus desdobramentos até nossos dias.
Nossa análise inicial se reporta, por um lado, à formatação da ciência moderna e, por outro, à estruturação da própria educação daquele mesmo contexto. Em seguida, expõe-se uma seqüência de acontecimentos nos mais diversos campos do saber que rompem com essa formatação inicial do pensamento moderno dando origem àquilo que se convencionou chamar a quebra do paradigma da modernidade. Esses acontecimentos podem ser considerados os sintomas mais visíveis de uma mudança que nada mais é do que a chave para a compreensão do nosso mundo contemporâneo. Para tanto, nossa proposta consiste em partir desta reflexão inicial sobre o desenvolvimento de alguns momentos históricos tanto da ciência como da própria educação, pois acreditamos que estes são determinantes e responsáveis pelo modelo de educação vigente em nossos dias. Nosso intento procura debater o modelo de educação atual, mas sem permanecer fechados em seu domínio e sim buscando compreender de que legado somos herdeiros?...
[1] Professor, mestre em Filosofia pela UFSM – Universidade Federal de Santa Maria.

Leocir Bressan[1]
Ao se tomar ciência e educação em seu desenvolvimento histórico como objeto de estudo, percebe-se como é íntima esta conexão. Pode-se compreender esta estreita relação partindo da análise da evolução estrutural da ciência e educação modernas e seus desdobramentos até nossos dias.
Nossa análise inicial se reporta, por um lado, à formatação da ciência moderna e, por outro, à estruturação da própria educação daquele mesmo contexto. Em seguida, expõe-se uma seqüência de acontecimentos nos mais diversos campos do saber que rompem com essa formatação inicial do pensamento moderno dando origem àquilo que se convencionou chamar a quebra do paradigma da modernidade. Esses acontecimentos podem ser considerados os sintomas mais visíveis de uma mudança que nada mais é do que a chave para a compreensão do nosso mundo contemporâneo. Para tanto, nossa proposta consiste em partir desta reflexão inicial sobre o desenvolvimento de alguns momentos históricos tanto da ciência como da própria educação, pois acreditamos que estes são determinantes e responsáveis pelo modelo de educação vigente em nossos dias. Nosso intento procura debater o modelo de educação atual, mas sem permanecer fechados em seu domínio e sim buscando compreender de que legado somos herdeiros?
Partindo da reconstrução anteriormente referida com relação à ciência moderna, percebe-se claramente que esta carregava a bandeira de possuir um conhecimento acabado e definitivo do mundo. Esse cenário pode ser desenhado pela obsessão de Galileu de traduzir o mundo sob a linguagem da matemática. A ciência, nesse sentido, representaria um saber que estaria isento à marca da temporalidade: o conhecimento pretendia-se válido para todos os tempos. Perguntamos nós: e qual o status da educação da época frente a esse cenário? A fim de melhor compreender essa questão podemos nos servir do filósofo alemão Schnädelbach quando este afirma: “para responder a essa pergunta é necessário remontar-se à função do ensinamento na Universidade na Idade Moderna e na época do absolutismo. Em ambos os casos se tratava de transmitir um corpo estático de conhecimentos, conservados nas obras de reconhecidas autoridades. Longe de representar um mérito, a criatividade se considerava indesejável no professor. E isso porque, conforme a mentalidade da época, a verdade é algo já estabelecido e aceito por todos; para adquiri-la basta apreendê-la”. Vê-se, portanto, que a educação da época está perfeitamente inserida no quadro acabado traçado pelo compasso da ciência moderna.
Todavia, este modelo de ciência começa, pouco a pouco, a desvanecer-se sob várias formas. Um exemplo emblemático do desmoronamento desta visão no domínio da ciência é o abalo de estrutura ocasionado pela descoberta de que o Geocentrismo – modelo de movimentação dos astros defendido desde a Antigüidade Clássica – não pode mais ser sustentado. O Heliocentrismo não somente surge como um novo modelo como também rompe com a estrutura ptolomaico-aristotélica do universo, secularizada por muito tempo. Citamos este exemplo pois o modelo geocêntrico do universo era considerado a “menina dos olhos” da ciência por permanecer praticamente inquestionável por quase dois mil anos. Portanto, as conseqüências de tal transformação não somente puseram em questão o movimento dos astros como também e, sobretudo, foram funestas para o próprio status da ciência da época. A própria ciência, repentinamente, descobre-se inacabada, temporal e passível de aperfeiçoamento.
No domínio da historiografia, esta mudança de paradigma pode ser observada no pensamento do filósofo-historiador Johan Gustav Dróysen quando este afirma que, na história, somente há uma coisa de estável: o fato de que tudo flui, tudo muda e que, portanto, um fato histórico somente tem significado quando for analisado dentro de um certo contexto cronológico determinado; não há uma mesma significação válida para todos os tempos. Por conseguinte, faz-se necessária a atividade hermenêutica de constante interpretação das fontes (textos) para (re)significar os fatos históricos que nunca podem ser dados como acabados. Nesse contexto, a própria reinterpretação da Bíblia, proposta Lutero, se insere no âmbito da origem da discussão hermenêutica. No cinema contemporâneo, o reflexo desta mudança pode ser visualizado na aceitação (outrora inimaginável) dos críticos de cinema para com os filmes de final aberto, possibilitando uma significação ao sabor do espectador. Já, no domínio da filosofia, a ênfase ao sujeito do conhecimento (que em outros tempos pertencera ao objeto do conhecimento) coloca em questão a possibilidade de alcançarmos a objetividade dado que apenas observamos o mundo de um modo subjetivo, a partir de nossas lentes e não como ele é em si mesmo. A idéia de uma filosofia em construção também é defendida por Kant quando este afirma que “não se ensina filosofia e sim a filosofar”.
Imersa neste novo cenário, a educação contemporânea muito bem poderia ser enunciada pela suave (mas implacável) voz do poeta: “quando pensamos que temos dado todas as respostas à vida, vem a natureza e nos modifica as perguntas”. Ora, ao proferir tais palavras não estaria o poeta a nos sussurrar que o princípio da nova educação tem sua morada no abrigo da pesquisa? Com o advento das novas tecnologias, de “verdades” sempre novas, de “lentes” constantemente diferentes para visualizar um mundo sempre e cada vez novo, somos como que arrebatados por essas violentas “águas” da mudança às quais nos apresentam um assustador desafio: ou seguimos o seu ritmo e curso ou seremos “arrastados” por elas.


[1] Professor, mestre em Filosofia pela UFSM – Universidade Federal de Santa Maria.

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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A Crise mundial e os juros brasileiros

Diogo Mattana[1]

Nos últimos meses estamos acompanhando o desenrolar da crise internacional e de seus impactos sobre a economia brasileira, e, sobretudo as medidas tomadas pelo governo brasileiro para contornar esta crise.
No final do ano passado, o governo anunciou uma redução bastante significativa do IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados, sobre o setor automobilístico, visando reaquecer este mercado, evitando demissões em massa. Porém esta medida se mostrou bastante ineficiente, pois as demissões ocorreram mesmo assim, e não somente no setor automobilístico, mas sim em vários setores da economia, inclusive na nossa região, onde grades empresas como John Deere e Sadia demitiram muitos funcionários. O setor industrial brasileiro reduziu cerca de 12% somente em dezembro de 2008.
No Brasil o olho do furacão, ou seja, o forte da crise deve chegar apenas na metade do ano, a partir de maio/junho...
[1] Acadêmico do curso de Economia da Unijuí, Bolsista PIBEX e integrante do Grupo PET.

Diogo Mattana[1]

Nos últimos meses estamos acompanhando o desenrolar da crise internacional e de seus impactos sobre a economia brasileira, e, sobretudo as medidas tomadas pelo governo brasileiro para contornar esta crise.
No final do ano passado, o governo anunciou uma redução bastante significativa do IPI – Imposto Sobre Produtos Industrializados, sobre o setor automobilístico, visando reaquecer este mercado, evitando demissões em massa. Porém esta medida se mostrou bastante ineficiente, pois as demissões ocorreram mesmo assim, e não somente no setor automobilístico, mas sim em vários setores da economia, inclusive na nossa região, onde grades empresas como John Deere e Sadia demitiram muitos funcionários. O setor industrial brasileiro reduziu cerca de 12% somente em dezembro de 2008.
Cabe discutir este método de intervenção na economia, pois estimular o barateamento dos carros populares pode realizar muitos sonhos, mas em um país onde as cidades não suportam o excesso de tráfego, há de se convir que seria muito mais interessante discutir investimentos em um transporte coletivo de qualidade, ao invés de facilitar a vida e aumentar o lucro das montadoras, além de se discutir uma política de empregos e de crescimento econômico que não seja tão dependente das grandes empresas multinacionais, que agregam lucros aqui para os remeterem a outros países.
No começo da crise, enquanto todos os países estavam diminuindo a taxa básica de juros, o governo brasileiro, visando o controle da inflação fazia o contrario, subia a taxa, mesmo em detrimento do crescimento econômico e da geração de empregos. Porém, na ultima semana, o governo anunciou um corte de um ponto percentual na taxa Selic, visando retomar o crescimento e afirmando que a inflação está sob controle.
Esta redução da taxa de juros veio bastante tarde, ou seja, deveria ter ocorrido já no final do ano passado, quando ao invés de ter acalmado a economia com a redução do IPI, que privilegiou apenas um setor específico, o governo poderia ter aquecido os investimentos com uma redução dos juros, já que o mesmo pregava que os brasileiros não deveriam parar de consumir por causa da crise. Neste momento, o governo deveria ter articulado todos os seus mecanismos visando à ampliação ou no mínimo a manutenção do crescimento da economia, todavia nunca é tarde demais para fazê-lo.
Ainda há espaço para uma redução maior dos juros ao longo do ano, fato que deverá deixar o setor produtivo satisfeito, tendo assim um impacto positivo sobre a economia, especialmente no longo prazo, sobre o nível de emprego e renda.
Neste sentido, também é interessante analisar os métodos pelos quais a economia brasileira vem sustentado seu crescimento, pois sabemos que grande parte do consumo realizado no país é feito na forma de créditos, especialmente quanto aos bens duráveis, tais como casas e automóveis, que em sua maioria são comprados com financiamentos de longo prazo. Sendo assim é necessário que a economia nacional se mantenha estável e com um crescimento sólido e constante, para que não venhamos a observar fatos semelhantes aos ocorridos nos Estados Unidos, onde muitas famílias perderam suas casas por não poderem honrar seus compromissos.
No Brasil o olho do furacão, ou seja, o forte da crise deve chegar apenas na metade do ano, a partir de maio/junho, período no qual as pessoas que foram e estão sendo demitidas deixarão de receber auxílios sociais, como o seguro desemprego, e mesmo as economias pessoais reservadas para momentos difíceis mais dia menos dia, caso a situação de desemprego não se reverta, deverão acabar, pois o dinheiro não dura pra sempre. Portanto é necessário uma tomada de atitude imediata, visando a recuperação do nível de empregos, renda e consumo, para que a economia não sofra uma estagnação ainda maior, especialmente no longo prazo, comprometendo o desenvolvimento econômico e sobretudo o bem estar das famílias brasileiras.
[1] Acadêmico do curso de Economia da Unijuí, Bolsista PIBEX e integrante do Grupo PET.

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domingo, 11 de janeiro de 2009

O IPI e o lucro das montadoras

A crise financeira mundial, que se iniciou no setor imobiliário (especulativo) norte-americano, rapidamente começa a contaminar a dita “economia real”. Recentemente as montadoras norte-americanas Ford, General Motors e Chrysler anunciaram que podem falir se não receberem um pacote de ajuda do governo, estimado em cerca de US$ 15 bilhões. A ameaça, como sempre, é o desemprego, colocando na rua milhares de trabalhadores destas indústrias. Outra gigante do ramo, a japonesa Toyota, anunciou o primeiro prejuízo de seus 70 anos de história neste ano de 2008, com uma perda de cerca de US$ 1,7 bilhão e também manda as favas o discurso de livre mercado, solicitando apoio do governo japonês.
No Brasil, a situação destas montadoras não é diferente, pois seus pátios estão lotados de automóveis, tanto aqueles destinados para o mercado interno como os voltados a exportação. E como os governos das economias centrais não estão dispostos a salvar estas empresas sozinhas, elas já ameaçam com fechamentos e demissões aqui em nosso país. Esquecem que boa parte do parque produtivo destas empresas foi inteiramente financiado com recursos públicos dos brasileiros, doados tanto pelos militares como mais recentemente na era FHC.


O governo Lula, fazendo jus aos elogios internacionais de grande estadista, capaz de conter a crise no Brasil, decretou no dia 11/12/2008 uma redução média do Impostos sobre Produção Industrial (IPI) de 7% nos carros populares (poder-se-ia lembrar que carro popular no Brasil é mito). O objetivo, como sempre, é nobre, pois esta redução estimularia o consumo, combatendo a recessão e o desemprego. E é uma decisão coerente, afinal, apesar do governo Lula não ser nenhum desenvolvimentista, esta muito mais próximo de medidas keynesianas do que o governo Bush, por exemplo, que após o estouro da crise se tornou uma espécie de neo-keynesiano.
Mas quem de fato ganha com esta redução do IPI? A economia brasileira? Os trabalhadores brasileiros? Os consumidores? Será que a redução dos preços finais dos automóveis chegará a 7%? Será que não haverá desemprego no setor automobilístico? Será que as montadoras, como GM, Ford e Toyota, entre outras, vão reinvestirem na economia brasileira seus lucros, obtidos com as vendas graças ao IPI reduzido?
Estas perguntas podem até ser respondidas positivamente, o que é pouco provável. Mas ainda assim, a medida do governo Lula não ficaria isenta de criticas, pelo menos se o objetivo da gestão de nossa economia for o desenvolvimento do país. Pois uma redução desta magnitude produzirá efeitos positivos primeiramente sobre o consumo de automóveis, o que agravará problemas de centros urbanos, como São Paulo, onde milhares de novos veículos chegam às ruas todos os dias. Fora os problemas de congestionar o tráfego (o que reduz a mobilidade de mercadorias e da economia como um todo), acarretando agravamento de problemas ambientais, devido à poluição causada por este tipo de veículos.
Deve-se perguntar, por outro lado, se do ponto de vista da geração de trabalho e renda, este modelo de investimento, que concentra recursos em indústrias de grande porte, que concentram suas atividades no sul e sudeste brasileiro, contribui efetivamente para o desenvolvimento do país, ou apenas contribui para elevar a diferenciação regional e desigualdade social no Brasil.
É correto sim o governo estimular setores econômicos, porém este estímulo deve dialogar com as necessidades do conjunto do país e da sua classe trabalhadora. O fomento ao mercado interno, via produção de alimentos e bens duráveis para a agricultura, por exemplo, poderia contribuir não só na segurança alimentar de nosso povo, mas também no crescimento e desenvolvimento como um todo, aproveitando-se inclusive do parque fabril que possuímos.
O mesmo pode-se dizer de um estímulo adequado à habitação popular, pois embora a indústria de construção civil esteja comemorando seus lucros neste final de 2008, é resultado muito mais da reversão de capital especulativo em patrimônio permanente, ou seja, não são os trabalhadores que estão massivamente adquirindo casas, mas especuladores assegurando seus lucros futuros. Porém, financiamentos massivos e imediatos para casas populares, certamente trariam resultados melhores para os trabalhadores, do que os recursos subsidiados as montadoras.
Estes são apenas alguns aspectos, mas como nosso presidente quer apenas que não nos preocupemos e que vamos às compras, vamos esquecer que mais uma vez estamos direta e indiretamente, assegurando os lucros das montadoras e dos especuladores internacionais, com os impostos que pagamos para serem presenteados aos “pobres” acionistas destas transnacionais.

Fabio Moraes Lemes[1]


[1] Economista, Mestrando em Desenvolvimento pela Unijuí, Técnico de Incubação de Empreedimentos de Economia Solidária.

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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Crise, depressão ou medo?

Nos últimos meses estamos acompanhando o desenrolar do que tem sido chamado de “crise do sistema financeiro mundial”. Muitas vezes comparada com a grande depressão de 1929 e considerada por muitos analistas como sendo a maior crise econômica da história do capitalismo. Mas o que é esta crise? Porque é uma crise do sistema financeiro?
A crise começou com o problema das hipotecas imobiliárias, ou seja, o bancos norte-americanos emprestaram muito dinheiro a credores com capacidade de pagamento duvidosa, os chamados sub-prime, e estes em troca hipotecavam suas casas e até compravam novas casas com o dinheiro dos empréstimos, visando obter lucro pela valorização destes imóveis. A partir do momento em que o mercado ficou saturado, os valores dos imóveis reduziram-se drasticamente, de forma que a dívida tornou-se muito superior ao valor do bem adquirido ou dado em garantia na forma de hipoteca. Assim ficou mais fácil entregar a casa hipotecada do que pagar a hipoteca. Os bancos, por sua vez, para garantirem o seu investimento contrataram seguros para estes papéis de hipoteca, as seguradoras fizeram seguro deste seguro e resseguro do seguro e resseguro do resseguro... em uma extensa rede de relações financeiras baseada em papéis de alta rentabilidade e de altíssimo risco. Quando uma elevação na taxa básica de juros dos EUA alterou os cálculos de viabilidade destes negócios, os devedores optaram por deixar de pagar suas hipotecas, tornaram-se inadimplentes e devolveram seus imóveis esse sistema inteiro implodiu e o resultado todos nós vimos.
Além de perguntar sobre as causas que originaram esta crise também é preciso refletir sobre as suas conseqüências, os impactos que ela produziu pelo mundo e especialmente no Brasil. A credibilidade do sistema financeiro mundial foi afetada profundamente pois, além de provocar prejuízos financeiros por toda parte, a crise provocou a quebra de inúmeras empresas, inclusive bancos de grande porte, e seus efeitos só estão sendo contidos graças as ações coordenadas dos governos dos países ricos e com a destinação de US$ trilhões de recursos públicos para salvar outras.
Os governantes brasileiros têm afirmado que o Brasil está seguro, que possui reservas de segurança e que não será afetado mais seriamente pela crise.
Efetivamente o nosso sistema financeiro passou por um período de ajustes, após a crise de 1998/99, tornando-se um sistema bem mais seguro, estável e responsável. De outro lado, uma política econômica conservadora que prioriza o controle da inflação antes do crescimento econômico, especialmente através manutenção de uma taxa de juros muito alta. Toda a vez que a inflação dá sinais de crescimento os juros aumentam, fato que causa um impacto direto no consumo e no investimento. Quanto ao consumo fica mais difícil comprar, especialmente a prazo. Quanto ao investimento, responsável pelo aumento da capacidade produtiva instalada, o resultado é ainda pior, torna-se muito mais difícil e mais caro investir, o custo de oportunidade é maior quanto maior for a taxa de juros.
Os impactos que o Brasil está sofrendo, resultantes da crise internacional, resultam muito mais do medo em relação ao que poderá acontecer do que dos problemas reais do sistema financeiro e da economia brasileira em si. Pelo medo de consumir, pelo medo de investir, pelo medo da crise. Sim, no Brasil a crise é uma crise gerada pelo medo e não pela fragilidade econômica, este medo é agravado pelo aumento ou pela não diminuição das taxas de juros, que num prazo maior acabam impedindo o crescimento do país.
Claro que muitas empresas multinacionais instaladas no país devem sim sofrer com a perda de faturamento e mesmo a falência de suas matrizes e filiais espalhadas pelo mundo, bem como muitas empresas nacionais que fizeram negócios de longo prazo com um alto grau de risco ou perderam dinheiro com as mudanças do câmbio e a retração do mercado mundial. Esta retração do mercado deve impactar negativamente nas exportações, mas é preciso lembrar que temos um mercado interno com grande potencial, de forma que os produtos que seriam exportados podem ser consumidos internamente. Além disso, os ajustes no câmbio podem compensar os preços.
Além disso, temos as reservas, que são para momentos de dificuldade. Bom se o mercado mundial está em dificuldade e a economia local necessita de investimentos, esta na hora de usarmos estas reservas para fazer investimentos e apoiar as exportações. O investimento é capaz de gerar novos empregos, mais renda e crescimento econômico, portanto esta é a hora de incentivar investimentos, tanto estatais quanto privados, especialmente pela redução da taxa de juros e pela disponibilização de recursos.
Portanto, como o nosso presidente recomenda otimismo e pede para a população consumir mais, seria importante que o governo pudesse articular todos os seus instrumentos de política econômica neste sentido. É importante manter os programas e projetos de investimento, os programas sociais de distribuição de renda e aumento do poder de compra da população, mas também as linhas de crédito para investimentos privados e, especialmente, reduza os juros.

Diogo Moacir Mattana[1]
[1] Acadêmico do curso de Economia, bolsista PIBEX e integrante do grupo PET.

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